O livro conta a história de Sahar, uma adolescente iraniana que está disposta a passar por uma cirurgia de redesignação de sexo para se casar com sua melhor amiga, Nasrin.
Escrito por uma autora descendente de pais iranianos, esse livro traz reflexões necessárias através de uma linguagem fácil e fluida que dão ênfase a um panorama relativamente comum, o da homofobia, mas visto dentro da perspectiva não-ocidental, algo que não é comum em produções literárias.
Faz-se relevante enfatizar a realidade de pessoas LGBTQ+ dentro do Irã uma vez que relações de cunho homossexual são punidas com pena de morte. Em contraste com essa situação angustiante, a transexualidade é vista no país como um erro da natureza e uma condição médica legal, termos mencionados no próprio livro, e a cirurgia de redesignação sexual é respaldada por um decreto religioso e financiada pelo Estado. Em decorrência disso, muitas pessoas na situação de Sahar se veem pressionadas a se submeter a esse processo cirúrgico como a única solução para viver sua forma de amor dentro da lei em uma sociedade predominantemente heteronormativa.
É interessante ver a trajetória de Sahar ao longo da leitura e como ela mergulha em um contexto que não a pertence e nos possibilita ver vivência de pessoas que, até então, não faziam parte do seu círculo social. É por meio da personagem Parveen, amiga do primo de Sahar, que tanto a protagonista quanto o leitor entram em contato com os grupos de apoio para pessoas trans o qual Parveen frequenta e, ao contar sobre a vontade de realizar a transição, mesmo não sendo verdade, Sahar passa a frequenta-los. A sociedade e o Estado iraniano perpetuam a ideia de que a transexualidade é uma doença e que a cura seria justamente a cirurgia e o processo que a acompanha, essa visão é refletida nos personagens presentes na obra e como sua mentalidade é afetada por isso.